sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A voz do "Rei"...


A voz "real" tem sido motivo de muita discussão. Há quem diga que ele não canta bem, que é meio fanho, que tem uma voz pequena, e por aí vai... Roberto, de fato, não tem um "vozeirão" com muita extensão, mas tem uma voz "bem educada", e, em 50 anos de carreira fonográfica, aprendeu a usar bem os recursos que tem – e não são poucos. Analisemos, então, a evolução de sua voz.

De 1959 a 1965...

Roberto emitia um timbre mais grave, pouco anasalado, aveludado... E cantava de um jeito contido, exceto por uns "uivos" nos rocks. Reparem que nos 78 RPM de Bossa Nova e no Louco por você, a voz é bem de garoto, o que é natural, já que Roberto tinha entre 18 e 21 anos.

1965...

Surge o Roberto da Jovem Guarda, adquirindo "malandragem" e atitude no cantar. Ele não mais canta de um jeito linear. Pronuncia sílabas com força, "arranhando a garganta". Incorpora, então, influências de canto falado, e o timbre se torna anasalado. O disco desse ano representa a transição. Algumas músicas ele canta do jeito "antigo"... Esperando você, por exemplo, e outras, como É papo firme, da "nova" forma.

1966-67...

Ele vai desenvolvendo a "malandragem" já mencionada na forma de cantar, e o timbre mais aveludado que usa nas músicas românticas fica mais forte e seguro.

1968...

Surge a voz "adulta" do "Rei", que consegue conciliar os timbres anasalados e aveludados. Graças às músicas mais sérias, ele mostra nuances que até então não mostrava... As canções que você fez pra mim, por exemplo. E passa a atingir extensões maiores. Além disso, "berra" como cantor negro.

1970...

Em Pra você e Astronauta, o "Rei" "inaugura" uma nova modalidade de canto. No caso, suave, contido, "ao pé do ouvido". Irá chegar ao auge disso muito em breve.

1971...


O "Rei" está maduro e no ápice do seu canto. No disco desse ano, ele usa todo o seu repertório. "Berra" em Todos estão surdos, A namorada, Só tenho um caminho... Pronuncia sua voz "definitiva" (muito melhor do que cantaria depois) em Traumas, Como dois e dois, e vai "ao pé do ouvido" em Detalhes e De tanto amor.

1972: disco importantíssimo...

Conceitual, cheio de detalhes interessantes. Ele pretende chegar ao "fundo do coração" das pessoas. E de uma forma muito íntima e conceitual. O som todo do disco é "nublado", "cinzento", como a capa... E a voz do "Rei", exceto em umas poucas canções, é extremamente "macia", "ao pé do ouvido", como ele nunca fez, e depois não voltará a fazer. Vão predominar os tons mais agudos.

1973 a 1975...

Ele está no auge da forma vocal, como em 1971. Não volta a cantar "ao pé do ouvido", mas retoma a força e os nuances em músicas como O moço velho e Além do horizonte. Seu canto é "limpo" e expressivo, vide Olha, Proposta e Você.

1976 até os dias atuais...

Surge a voz e o jeito de cantar que ele consolidou a partir daí e do qual não mais se afastou. Canta "pelo nariz", adota uma margem "confortável" de tonalidades, e não mais irá se "aventurar" por tons mais agudos, nem cantar com força como antes. Também abandonará a suavidade "ao pé do ouvido". Vai cantar sempre com vibrato, bem mais do que fazia antes. E, aos poucos, sua interpretação vai ficando mais linear, sem tantos nuances. Até hoje, e desde então, a voz "real" soa bem homogênea nas gravações, com a mesma equalização. Os "mapas" de gravação devem ter seguido um padrão, iniciado nos Estados Unidos, onde ele gravou de 1971 a 1984, e seguindo depois aqui. Como "aulas" de uso de recursos vocais, os discos de 1968 a 1975 são exemplares. Depois, o "Rei" meio que "escondeu o jogo"...

Por Alexei Michailowsky.
Adaptações: Murillo Pompermayer.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Como Roberto Carlos trouxe o soul para o Brasil...


A postagem inaugural deste blog, que é vinculado ao programa Outra Vez, o Rei..., fará menção à contribuição de assaz importância, mas que poucos têm conhecimento, acerca da vinda – e posterior difusão – de uma vertente musical em nosso país, cujo responsável foi justamente Roberto Carlos. Refiro-me ao soul.

Acredito que já havia música soul sendo feita no Brasil por volta de 1966. Talvez por alguns "antenados", uma vez que ela era bem moderna nessa época, e sofria muitas transformações. Mas apenas Roberto Carlos poderia propagar esse estilo de música em escala nacional no Brasil. Tudo o que ele fazia tinha público, dava ibope, e ele precisava diversificar seus caminhos, sobretudo com a concorrência baiana e a decadência da Jovem Guarda.

Seguidamente, em 1967, veio a canção Quando, que ainda possuía "ecos jovem-guardistas", mas que já continha pontuados, e um "groove" inesquecível, criado por um baixista inspirado e ensandecido... Provavelmente Paulo César Barros. Ninguém tinha como "ver a luz" naquela época, mas tínhamos, então, outro "Rei": o "Rei" "negão". Sim, o pioneiro número um do soul brasileiro poderia ser Tim Maia, um negro de fato.. Mas Tim acabara de chegar da América (e da cadeia) e não tinha tanto "trânsito" no mercado fonográfico. Quem era o homem que podia abrir caminho? Claro, Roberto Carlos.

O álbum O inimitável, de 1968, pode ser considerado um disco cinquenta por cento soul, e tem inúmeros clássicos do gênero, tais como Ciúme de você, Eu te amo, eu te amo, eu te amo, dentre outras. Foram, sem exceção, muito bem recebidas pelo público.

A partir daí, a "suingueira" imperou no Brasil. Outros artistas brancos, como Marcos Valle e Elis Regina, adotaram o soul, e, mais importante, artistas negros aderiram com êxito o suingue. Cito, por exemplo, Trio Esperança, Trio Ternura, Dom Salvador, e o próprio "síndico", Tim, que gravou seus primeiros singles em 1968.

Por Alexei Michailowsky.
Adaptações: Murillo Pompermayer.